Wednesday, April 11, 2012

e as ideias, comem-se?
o que nos separa (como leitores do real) da natureza das coisas são as ideias que se formam através de mecanismos substanciais que se encontram (provavelmente e não só) no cérebro e que viajam pelos sentidos e por mais qualquer coisa que ainda não nos é possível objectivar. a natureza move-se, o que nos permite, como reflexo desse movimento, entendê-la através dos atrás citados mecanismos. entender a natureza é o mesmo que dizer quantificá-la (o quanto possível). isto é, há que somá-la, diminuí-la, multiplicá-la e dividi-la e equacioná-la. destas "perturbações" do movimento surge o tempo. este começa a existir a partir de qualquer destas operações e estas só podem iniciar-se desde que aquele (movimento) se manifeste. apesar de as ideias e da matemática serem filhas do reflexo da natureza no cérebro nunca ela se pode confundir com aquelas. como posso tratar a natureza sem o auxílio das ideias e da matemática? até agora, que se saiba, só estas duas actividades cerebrais o podem fazer. que as ideias são trabalho dos sentidos, não está fora de questão. se quisermos, podemos dominar a natureza conscientemente, mas se o fizermos estamos sempre utilizando as ideias e a matemática. para terminar este pequeno conjunto de intenções há que colocar as coisas no meu/seu devido lugar. parece que é no cérebro que tanto as ideias quanto a matemática encontram o espaço para se estabelecer. ora, sabemos que os cérebros não são todos iguais, melhor dizendo, apresentam diferenças de actuação. vejamos, por enquanto, uma só delas para não levarmos o tema para áreas que aqui não terão cabimento. a diferença entre um cérebro normal e um que tenha sofrido, por exemplo, um acidente torna-os à partida distintos. cérebro (acidentado) que funciona com lógica mas não consegue actuar como os demais em certas áreas. (exemplo referido em o erro de descartes do prof. a. damásio quando descreve o acidente de phineas gage). não se coloca fora do cérebro a leitura do real. poder-se-á afirmar que o cérebro constrói ideias correspondentes à natureza mas elas poderão não ser as mais conformes àquela, isto se tivermos em conta a média comum do entendimento geral. para além de acidentes físicos exteriores, como por exemplo um ferimento de bala que pode destruir parte do cérebro sem que este deixe de funcionar existem outros fenómenos que poderão impedi-lo de funcionar regularmente (distorcer a realidade), como os ataques epilépticos, por exemplo. ora, o cérebro (único até ver) capaz de construir operações matemáticas complexas e a criar ideias (o cérebro dos animais também), seria de bom tom olhá-las como um produto. se o cérebro é uma substância de ordem material (pode ser pesado e medido, logo possui massa, energia) , é natural que tanto as ideias e o fruto das operações matemáticas sejam matéria. uma matéria diferente, mas matéria. de outro modo poder-de-ia exagerar ao afirmar que o cérebro era um criador de imateriais. uma espécie de deus criador de coisas imateriais tais como almas, ideias e outras abstracções do género. não faz sentido entender-se as ideias como seres imateriais filhas e criadas pelo "mistério" da matéria palpável. vai chamar deus a outro, contestará um cérebro respeitável. pode-se, realmente, recorrer a ideialismos explicativos do tipo platónico. mas isso não passa de jogos de entretenimento para mentes que se dedicam a explicar a natureza com ideias desligadas dela pela separação óbvia que existe entre cérebro e objecto de todo. para mim, a natureza será o que o meu cérebro quiser ou estiver disponível a interpretar. eu até desconfio da sua actuação quando ele se atreve a distorcer as minhas ideias quando eu tomo um copo a mais. se as ideias fossem imateriais nunca se afectariam com o álcool. ele (cérebro) é que sofre com a ingestão de bebidas. por vezes trata-as mal, uma espécie de violência doméstica... também estou convicto de que se as ideias fossem imateriais , quando eu corresse a sete pés do fiscal de isqueiros elas deviam ficar para trás (ou para a frente se corressem mais do que eu) ou, na melhor das hipóteses acompanhar-me-iam se o meu andamento as não cansassem. como pode ela (a ideia) sendo imaterial estar colada ao depósito (zona do cérebro) e não dar um salto maior do que a perna? o cérebro - que cria também a ideia do eu que ele trabalha e domina sempre que lhe apetece ao ponto de se confundir com ele - não passa de um muito discutível mediador entre a ideia que ele próprio produziu e a natureza que ele às vezes maltrata dado que a sua incapacidade de ser realidade é de todos (os psicólogos e outros que tais) conhecida e verificada em laboratório. não dizem que o cérebro é o ponto mais alto da evolução da matéria? para mim, não tendo à mão outro tipo de reconhecimento, não me resta senão estar de acordo até que mito medonho me desfocalize de tal compreensão. estamos fechados num mundo material que se diverte criando ideias em suas vítimas e criaturas para se tornar significativo de si próprio (?) sem o conseguir totalmente. porque o cérebro passa por ser um possível conhecedor da natureza e ao mesmo tempo não deixa de ser um paciente sofredor de desvios, nada impede que ele não reconheça a sua falta de rigor como uma espécie de exame de consciência. se o cérebro não reconhecesse na natureza a substância de que é composto nunca poderia aplicar as operações matemáticas provenientes dos movimentos externos que nele se reproduzem como reflexo. alguns sentidos funcionam como intérpretes de variações do real. as ideias e todo o tipo de abstracções matemáticas não passam de uma questão metafísica pois nem umas nem outras são de facto o real. são um meta-real tergiversado e eloquente. alguns pensadores têm caído na esparrela de afirmar haver ideias verdadeiras e de que delas não se deve duvidar. julgo tratar-se de um acto de puro fideísmo para ultrapassar a dificuldade que têm as ideias em se transformar no real.